Publicado:
18 de novembro de 2012
Categoria:
Artigos Técnicos
Como especificar um disjuntor de baixa tensão

INTRODUÇÃO
A eletricidade está presente em todo o mundo e todos são conscientes de sua importância nas diversas áreas da civilização moderna. Porém, para seu bom funcionamento é necessário que reduzamos os riscos ao mínimo e supervisionemos a operação da rede elétrica permanentemente, controlando e identificando seus defeitos.
Para que isso ocorra uma peça é fundamental: o disjuntor. Como responsável geralmente pela interrupção do circuito no seu pior momento (a presença de uma falha elétrica), sua aplicação deve ser feita com todo o cuidado para que ele atenda às nossas expectativas. Diversos itens devem ser observados para que o produto mais adequado seja escolhido
Com este intuito, a norma internacional IEC60947-2, também adotada no Brasil, foi criada para garantir ao usuário um nível de performance o mais detalhado possível. Para isso, diversos testes são realizados nos produtos para que sejam atendidos os critérios da norma. Visando o cumprimento desta, a ABB disponibiliza as informações de performance em diversos catálogos e manuais de suas linhas de produtos, desde os minidisjuntores S60 de uso residencial, passando pelos S200 mais para área industrial e, para correntes maiores, os disjuntores de caixa moldada Tmax XT e os disjuntores de caixa aberta Emax.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Como informação inicial devemos entender o que é um disjuntor e qual seu papel numa instalação elétrica, conforme a explicação da norma internacional.
Trata-se de um dispositivo mecânico capaz de interromper, suportar e fechar a corrente de um circuito elétrico sob condições normais e também fechar, suportar por um período de tempo especificado e interromper a corrente sob condições anormais específicas de um circuito, tal qual um curto-circuito. Portanto, esta informação está disponível nos catálogos dos produtos, de acordo com cada modelo, descritos conforme a orientação da norma. As primeiras características a serem observadas são: capacidade de interrupção, capacidade de fechamento e corrente suportável de curta duração para as tensões que um disjuntor deva trabalhar.
A definição de disjuntor de caixa moldada e disjuntor de caixa aberta está incluída na norma e, conforme podemos verificar nas figuras 1 e 2, esta característica deve ser escolhida também, quando da especificação do produto mais adequado.

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CRITÉRIOS DE ESCOLHA
Para o primeiro parâmetro de definição técnica devemos saber qual a corrente que fluirá pelo disjuntor, seja para alimentar uma carga ou como parte de um quadro de distribuição geral. Este valor é definido na norma como corrente ininterrupta e simbolizada por Iu. Este valor é informado no catálogo do fabricante, identificando o que o produto pode suportar por um tempo indefinido sem ocorrer seu desligamento, porém com os valores referidos a 40 °C. Esta definição está no capítulo 4.3.2.4 da norma.
Portanto, esta especificação nos garante que podemos utilizar um disjuntor fluindo corrente entre seus terminais de entrada e saída até o valor Iu informado. Trata-se do que normalmente chamamos de “frame” do disjuntor. É muito imporatente que este valor não seja confundido com o da corrente nominal (In) indicada também na literatura ou na caixa do disjuntor. A corrente nominal sempre é referenciada ao disparador termomagnético usado no produto, a partir da qual podemos ajustar um valor que melhor proteja a instalação podendo este valor ser inferior ao do Iu (corrente ininterrupta).
Como exemplo, a tabela abaixo da linha Emax mostra diversos valores nominais de um mesmo “frame”, além dos diversos valores de corrente ininterrupta existentes.

Não devemos esquecer que diversos fatores podem influenciar a corrente ininterrupta de um disjuntor, tais como altitude, temperatura ambiente e frequência da rede elétrica e, caso a aplicação seja numa temperatura ambiente maior do que 40 °C ou numa altitude maior do que 1000m, o catálogo deve ser consultado para o uso de valores de Iu menores do que indicado anteriormente.
Com relação à tensão que devemos usar no disjuntor, o aspecto mais importante é a capacidade de interrupção (qual o nível de curto-circuito que o disjuntor consegue interromper) no qual o produto tenha sido testado e comprovado quanto à possibilidade de desligamento deste tipo de defeito. Para evitarmos acidentes, devemos respeitar o limite de cada tensão empregada, nunca ultrapassando esse valor. Como exemplo para uma melhor compreensão, segue parte da tabela dos minidisjuntores e algumas capacidades de interrupção. O catálogo técnico do produto deve sempre ser consultado.

Saber somente um valor de capacidade de interrupção não é suficiente para escolhermos o disjuntor correto. Geralmente este é um fator pouco considerado no momento de compra do produto. A performance completa é atingida para diversas situações que podem acontecer numa instalação elétrica. Para classificarmos estas diferentes situações, vários índices são testados e informados para garantirmos a continuidade do serviço da instalação.
O primeiro deles é o Icu, que é a corrente nominal de interrupção máxima sob curto-circuito. Corresponde ao valor de corrente mais elevado que o disjuntor está em condições de interromper para:
- uma certa tensão de serviço Ue
- um certo fator de potência cos φ
- um ciclo de operação determinado O-3min-CO
Depois deste ciclo, o disjuntor pode não garantir a continuidade do serviço, mas deve manter:
- SUA ISOLAÇÃO: tanto em condição de aberto como fechado
- SUA AUTOPROTEÇÃO: em 2,5 x In o relé térmico atuará
O valor informado no catálogo indica o limite operacional máximo do produto e nunca deve ser ultrapassado sob nenhuma hipótese, com risco de provocar um acidente. Como pode ser observado acima, a não continuidade do serviço sinaliza que não podemos esperar que o disjuntor esteja em condições de uso, caso ele interrompa um curto-circuito neste nível.
O segundo índice a ser analisado é o Ics ou a corrente nominal de interrupção de curto-circuito em serviço. Corresponde ao valor de corrente mais elevado que o disjuntor está em condições de interromper para:
- uma certa tensão de operação Ue
- um certo fator de potência cos φ
- um ciclo de operação determinado O-3min-CO-3min-CO
Depois deste ciclo, o disjuntor deve garantir a continuidade do serviço, uma vez eliminada a causa que provocou o curto-circuito, ou seja, o disjuntor deve suportar a corrente de carga sem afetar o serviço.
Os valores de Ics normalmente são referenciados em função de Icu
O Ics é, portanto, a capacidade de interrupção que devemos considerar caso seja necessário manter a instalação funcionando, após o religamento, sem necessidade de intervenção da manutenção. Com estes dois valores escolhidos no catálogo (Icu e Ics), temos condições de saber se o disjuntor abrirá nosso curto-circuito calculado na tensão da nossa rede elétrica e se podemos ter a continuidade de serviço.
Os disjuntores, quando operando, não estão somente sujeitos a “desligar um curto-circuito”, dois outros valores de capacidade devem ser considerados, o Icm e o Icw.
O Icm é a capacidade nominal de estabelecimento em curto-circuito. Corresponde ao valor de corrente de pico mais elevado que o disjuntor está em condições de estabelecer, durante a operação de fechamento para:
- uma certa tensão de operação Ue
- um certo fator de potência cos φ
Ou seja, quando rearmamos o disjuntor, o curto-circuito pode não ter sido eliminado. Portanto, o disjuntor está sujeito ao curto-circuito no momento em que manual ou automaticamente, precisamos ligar novamente a rede. Esta situação é perigosa, pois normalmente esta operação é realizada pelo eletricista de forma manual, diretamente no produto e, caso ele não esteja apto a fechar e estabelecer o valor de pico da corrente de curto, um acidente de graves proporções pode acontecer.
O último índice a analisarmos é o Icw, que é corrente nominal de curta duração admissível. Corresponde ao valor de corrente de curto-circuito mais elevado que o disjuntor está em condições de suportar durante um tempo específico, sem se abrir ou danificar-se para:
- uma certa tensão de serviço Ue
- um certo intervalo de tempo t1
O Icw deve ser indicado quando o disjuntor for classificado como de categoria B e seu valor deve ser maior que:
- para Iu < 2500A: o maior valor resultante entre 12 x Iu e 5kA
- para Iu > 2500A: valores maiores ou iguais a 30 kA
Devido à sua complexidade, precisamos explicar por partes. Este valor refere-se a disjuntor de categoria B, que são aqueles que ficam na parte inicial da instalação, geralmente nos QGBT´s e, por uma questão de seletividade, devem se manter fechados por um tempo, enquanto os disjuntores a jusante devem desligar um eventual curto-circuito. Como esta corrente de curto circula pelo disjuntor categoria B, este deve ser testado quanto à capacidade de suportar esta condição e seu valor operacional deve ser informado no catálogo. Novamente um valor de tensão e tempo que suporta a presença da falta deve ser indicado e alguns limites devem ser respeitados como valores mínimos.
Como último critério a ser observado, certos disjuntores possuem a capacidade de limitar a corrente de curto no local onde são instalados e, portanto, permitem uma economia de custos na parte da instalação que fica a jusante dele.
Segundo a definição 2.3 da norma IEC 60947-2, um disjuntor limitador é aquele que, devido a seu curto tempo de abertura, evita que a corrente de curto atinja seu valor de pico, reduzindo assim o stress térmico e dinâmico nos outros componentes da instalação elétrica. A figura abaixo mostra este efeito.
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Observe que, tanto o valor de pico (causador dos esforços eletrodinâmicos nos barramentos e cabos) quanto o valor térmico – também conhecido como o I2t – (causador dos aquecimentos e eventuais incêndios nos painéis), são reduzidos pelo disjuntor limitador.
Este efeito limitador é conseguido principalmente pela velocidade em que o disjuntor percebe a falta e seus contatos se abrem e também na rapidez com que consegue apagar o arco elétrico formado no seu interior.
Nos manuais dos produtos, esta condição pode ser vista por gráficos apresentados pelos fabricantes, como os que são mostrados abaixo, para a linha de disjuntores caixa moldada Tmax XT. O primeiro indica a redução da corrente de pico. Na linha horizontal podemos ver o valor de curto da instalação antes do uso do disjuntor, e na linha vertical o valor de pico que pode ser limitado caso usemos o XT1. No segundo gráfico, o valor de energia passante que o XT3 permite para determinados valores de curto-circuito.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo que podemos ver, a aplicação de um disjuntor deve seguir um roteiro onde alguns dados devem ser levantados de um estudo de curto-circuito, depois comparados com os dados informados no catálogo técnico, segundo os critérios que satisfaçam as necessidades. Muitas vezes, por questões práticas, se escolhe somente a corrente nominal de um produto, mas podemos entrar numa situação de risco e até provocar um acidente com parada de produção e principalmente danos a pessoas.
A ABB (www.abb.com) é líder em tecnologias de energia e automação, proporcionando aos clientes industriais e de concessionárias a melhoria da sua performance energética, além da redução dos impactos ambientais. O grupo ABB opera em cerca de 100 países e emprega em torno de 145.000 funcionários.